segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Morte



Treze horas seguidas eu dormia sem qualquer tentativa de apoiar os pés no chão, sonhava, sonhava, sonhava, e quando sem Nina acordava já de olhos fechados para a janela de vidro do meu quarto, que incansavelmente já não me acordava com tanta facilidade. O sol já não era o mesmo e nem sua intensidade em minha pele nua me fazia vibrar. Às vezes, me levantava e ia até o banheiro tentar me reconhecer no espelho embaçado sem reflexo, e respirava, respirava lentamente como se aos poucos eu soubesse que meu pobre e pisoteado coração fosse parar. Eu esperava por isso.
Nos minutos seguintes eu me arrastava até a cozinha tentando encontrar algum vestígio de café puro e amargo para a minha manhã sombria. Os passos até a sala de estar eram uma longa jornada, olhei fixamente para a porta na vã esperança de Nina bater e dizer: ‘’Eu estou aqui e quero voltar’’ Não, ela nunca voltou. Me agarrei a uma camisa velha e me estremeci com  o cheiro que ela me provocava era como se fosse meu alimento por hora sim por hora não e quando sem Nina eu já não sentia mais fome.  Minhas horas no trabalho eram de agonia tremenda, eu estava e não permanecia ali. Todas aquelas pessoas me faziam sentir um homem de uma multidão só.
À noite em casa, me colocava a beber qualquer coisa que me levasse a dormir no sofá e quando sem Nina nenhum gosto já fazia sentido em minha boca. Meu corpo se arrastava com força para não cair ao primeiro passo até a cama e com tudo que havia em mim me jogava até ela, eu me retorcia quando sentia o cheiro e o gosto do lençol que eu não me dispus a trocar por que quando sem Nina dormir agarrado a tudo que me lembrava a ela, me deixava mais vivo. Sim, mais vivo. Os pesadelos viam com o tempo, era a melhor parte de meus dias. Nina sempre estava neles e permanecia alegre e sorridente esperando por mim, eu gritava durante todos, e acordava com dores e unhas rasgando o meu leve e pequeno travesseiro.
Minhas noites eram longas, por vezes eu não dormia me sentava na cama e ficava inerte e tonto olhando para uma direção que se quer havia sentido se olhar aquela altura: O telefone! Ele nunca tocou. Em momentos de delírio e alucinações eu tinha diálogos comigo mesmo e acusava prontamente aquela que me tirou a razão. “Você fez um buraco no meu peito”, “Não vai voltar e dizer que se arrependeu que me ama?” Não, ela nunca voltou.



                                                                               

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